domingo, 17 de fevereiro de 2013



Texto: Amanda Mello

De repente você percebe que aquela preciosidade sem a qual você seria incapaz de  viver perdeu a razão de ser e passou a ser outra coisa tão preciosa quanto.

Às vezes na caminhada missionária, bem como na vida, podemos ter a sensação de que algumas coisas perderam o sentido que tinham e que enquanto não há nada disponível para substituir ficamos em um espaço de espera, que quase nunca é confortável, que para falar sinceramente, às vezes, chega a ser angustiante, mas que também tem uma porção de serenidade e um Q de liberdade. É quando você olha pra frente e sente intimamente que pode seguir sem amarras.

Quando algo não significa mais o que significava antes é como quando vamos mudar de domicílio e percebemos que o tempo passou - a ficha caiu – e um novo tempo está por vir, mas ainda nos encontramos na casa antiga sem nos sentirmos nela, e sem a mínima noção de como será o lugar para onde iremos.

Não temos perspectivas do que virá, porém, tudo o que sabemos é que não queremos as coisas como estão e mesmo que possamos transitar com facilidade por este espaço de espera, talvez soframos um pouco por falta de segurança e acabamos nos apegando à velha casa e sua razão de ser que não mais existe.

O novo nos convida a um salto no desconhecido, no não sonhado, no imprevisto. Treinar o desapego pode não ser fácil. É preciso a coragem de assumir o tempo da espera.

Podemos viver um conflito entre os sentimentos, ao mesmo tempo em que buscamos as antigas seguranças, amarras, já invalidadas, nos maravilhamos com a possibilidade da renovação. 

Não deixemos-nos perturbar pela dualidade. A fé pode nos auxiliar neste caminho. A fé em algo além do que já conhecemos. A fé no que não sabemos de tão grandioso e belo. Uma força maior que nos anima, a fé num SAGRADO que se separou de identidades para se revelar em outro nível. Isso é ter fé no mistério, no SAGRADO verdadeiro que não se revelou de fato dentro de nós, que resiste preso a conceitos.

O desconhecido é um labirinto sem paredes, não há referencial algum, não sabemos o que virá. É natural querer salvar-se, em vão, no já experimentado, naquilo que podemos dominar, mesmo que isso não mais alimente o anseio da nossa alma, mesmo que isso não seja mais a nossa verdade.

A vida nos chama fortemente para seguirmos adiante, para encontrarmo-nos com o desconhecido e nos convocará cada vez mais forte ao ponto de nenhuma falsa segurança resistir.  

Não da mais. Não cabe mais. Não adianta arejar os pensamentos, insistir no que não tem mais chance de florescer. Os frutos caíram, a árvore morreu, é hora de lançar novas cementes ao solo. É o momento da consciência, do adequar-se ao fundamental pra si. 

Estas mudanças estão causando crises sem precedentes na vida das pessoas. Não é um privilégio dos padres, das freiras ou das leigas e dos leigos.  Gaia vive esta espera, cada pessoa, cada ser vive esta espera no seu tempo.   

É como se estivéssemos aprisionadas (os) e agora não sabemos o que fazer com a sensação de estarmos livres. Neste momento a liberdade parece um vazio, mas só parece, pois está recheada da graça de Deus. 

Já está dando pra começar a ver?   


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